segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Palmas às mulheres de Tuxedo

Se você se acha ousada na hora de se vestir, imagine essas mulheres. Especialmente a que está sentada, fumando, e usando gravata borboleta e um tuxedo (smoking) . Estamos em Paris, 1928. A foto Les Garçonnes (Jacque Lartigue) é parte de uma revolução . Mulheres em busca de liberdade e igualdade de direitos. Adotar elementos do vestuário masculino não é nada de mais hoje em dia , mas vestir um tuxedo nos anos 20 era romper com todas as regras. O fim da mulher boazinha. Que devia ser uma chatice!


Nos anos 20, a moda eram os bob haircut. Cabelos curtinhos, estilizados. Livrar-se das longas madeixas era ser independente. Você nunca se sentiu uma nova mulher, mais poderosa, depois de um corte radical ? Uma das inspirações pode ter sido Joana D'arc, mas quem fez do bob um ícone fashion foi a atriz Louise Brooks.


E o tuxedo? Na moda feminina ele ficou popular mesmo no outono/inverno de 1966 , num desfile de Yves Saint Laurent. Ele criou o Le smoking , o primeiro tuxedo feminino. 
Mas, lembre-se, a ousadia das mulheres em vestir peças masculinas começou nos anos 20. E na década de 50 , a atriz Marlene Dietrich já apostava no visual andrógino. E de cartola. Vestida assim, Dietrich foi a um nighclub em Paris.


Quer um empurrãozinho pra usar um tuxedo? Você, antes de tudo, precisa segurar a roupa, tem que ter atitude. A sugestão é ouvir Tuxed Junction. Uma das gravações mais famosas é de Glenn Miller . Você, com certeza, vai entrar no mood.



domingo, 4 de dezembro de 2011

A sensualidade do BIAS CUT


Quanto mais eu leio sobre moda, mais eu percebo o quanto eu não sei nada. Sinto-me como uma criança. S-O-F-Á. Mas o que é um sofá, o bebê pensa? Se é que a elaboração se faz assim, já com um ano de idade . (sobre aprendizagem também pouco sei) . A questão é , você fala sofá e mostra o sofá. E a associação se faz. Assim acontece comigo right now. Bias cut dress. Como não tem ninguém aqui pra me mostrar o que é, pesquiso. E descubro que aqueles vestidos de Hollywood dos anos trinta, como este ...


                                                                 ROBERTA (1935)
.... que ressaltam tudo o que há de mais feminino, curvas, são vestidos chamados Bias cut dress. Por quê? Eu já explico. 
A atriz - modelo da foto é Jane Hamilton e participou de vários filmes com Fred Astaire e Ginger Rogers. O diálogo sobre o vestido é perfeito. 

Quando a modelo caminha , Ginger comenta "Mm! Does not she look wonderful in that"  
e Fred responde "Marvelous. Just like a peeled eel."

E Fred tem toda razão, só não estou certa do que ele queria dizer. Eel é enguia. Então falar que parece pele de enguia, ok. Sinuosa, envolvente e perigosa. Uau!!! Agora, procurando no dicionário acho que "peel the eel" é masturbação. Tinha algo mais picante neste comentário, mesmo que em 1935, certo?
Dá uma olhadinha na parte de trás do vestido.


Mas vamos ao que interessa! O que é o Bias cut dress mesmo? Uma coisa é o Bias cut outra é o vestido. Ah, tá. 

Bias cut é uma forma de cortar o tecido, num ângulo oblíquo. Gente, eu também não entendo muito de costura, nem de geometria ehehehheheh
Uma imagem pode ajudar a compreender, espero. É um corte enviesado.



E quem inventou o Bias cut? Pelo jeito, ninguém sabe. Talvez alguma costureira medieval cujo apelido era Bia. O que todo mundo está de acordo é sobre quem popularizou o corte e fez vestidos incríveis. Apresento Madeleine Vionnet, mágica do fenômeno Bias cut dress. A década de 30 marcou o retorno da feminilidade e o Bias Cut era a trend. (uma das)

A design francesa moldava os vestidos em modelos miniaturas. Não desenhava. Era direto da boneca para a modelo de verdade. Vionnet usou crêpe, gabardine e cetim para fazer roupas. Tecidos pouco comuns na moda dos anos 20 e 30. Ela ajudou a dar a nós ,mulheres, liberdade. De espartilhos e enchimentos. Queria valorizar as formas naturais, sem exageros e apertos. E o Bias cut dress fez tudo isso. 


Imagine usar esses vestidos antes da Segunda Guerra Mundial? Uma ousadia. O mais fantástico é como o Bias Cut molda sem grudar no corpo. Ele respeita as suas curvas. A minha dúvida é se , em mim que não tenho curvas, ele cairia bem. Agora, se o corte não fosse feito corretamente era um desastre. Por isso todas grandes atrizes queriam Madaleine Vionnet.  Greta Garbo. 




Marlene Dietrich. 


Graças a Vionnet temos os hauter neck. Ela popularizou a frente única, com elegância, decotes profundos e tecidos nobres. 


 Karl Lagerfeld has said in 1974 that “Vionnet has influenced everyone, whatever one says”


Uma criação inesquecível de Vionnet é o vestido de deusa (Grecian style dress), de 1931. Você , com certeza, viu alguma vez essa fluidez (até rimou) ser copiada por aí. 
"Os vestidos de corte enviesado de Vionnet fizeram com que o tecido flutuasse livremente pelo corpo, realçando as curvas naturais e acentuando - embora não molasse - as formas femininas. Vionnet é tida como a responsável por tornar o corte enviesado um dos mais importantes da moda moderna; ela certamente sabia que cortar o tecido na diagonal faz com que ele mais flexível e elástico, o que resulta num caimento suave e drapeado". 

Parece fácil, um look simples, certo? Se eu mal consegui explicar em palavras como Madeleine Vionnet ( 1876 - 1975) cortava o tecido , imagine com uma tesoura na mão. 

***** E numa reportagem imperdível sobre vestidos que marcaram a história do cinema tem o Bias cut dress. Dê uma olhada.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O poder de um vermelho nada básico.



Ou eu enlouqueci ou no livro Cinquenta vestidos que mudaram o mundo não há um vestido vermelho ? Chequei duas vezes, página por página e nada. Ué? O vermelho tão chocante e polêmico ficou de fora da edição do Design Museum. Temos o preto básico, mas não o vermelho da luxúria.






“You could say quite literally that red is the first color most languages recognize,” says author and color expert Jude Stewart.


Vermelho signfica : sangue, amor, emoções fortes, perigo , paixão, agressão. Vermelho é também a cor do sol. Simboliza energia e vitalidade. 

Durante séculos determinou o limite entre santas e putas. 



Carregar um vestido vermelho requer atitude até hoje. Não é para qualquer mulher.


Audrey Hupbern - Funny Face


                                        Vivian Leig - Gone with the wind

(Scarlett pode ser famosa por declarar "nunca mais sentirei fome novamente". E poderia emendar "sempre vestirei vermelho". Nenhuma cor combina melhor com essa personagem tão voluntariosa e forte.)

Algumas mulheres não aguentam o peso de vestir vermelho. Desistem e voltam pra casa mais cedo, né Julie?


O filme é Jezebel, com Betty Davis e Henry Fonda. O ano, 1850. Julie, personagem de Betty, é cheia de vontades e quer testar os limites do noivo todo o tempo. Uma mulher que, parecia, ter uma personalidade forte. Mas ... 
Depois de muitas discussões, Preston Dillar (Henry) aceita levá-la a um baile . Ela de vestido vermelho. Chegam, e os olhares de reprovação se multiplicam pelo salão. Julie não suporta, o vermelho queima e ela bate em retirada depois da primeira música. 



Imagine então quem ousa, por exemplo, se casar de vermelho?
Se você nem pensa nisso, saiba que está um pouco atrasado. Vestir vermelho no dia do casamento, no século XVIII , nos Estados Unidos, era a forma das noivas apoiarem a Revolução Americana.

Vou pensar em outros vestidos vermelhos e rever os cinquenta vestidos que mudaram o mundo. É tarde, vai que pulei uma página. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Você é apaixonado por Chuck Taylor e não sabe.

Você tem, provavelmente, um Chuck Taylor no armário. Dê uma olhada, vasculhe, ele provavelmente está lá, bem sujo, de tanto que você usou. É a combinação perfeita para o jeans, uma saia talvez, vestido. Chuck Taylor é sinônimo de informalidade. E não é assunto mais de tendência porque há várias estações resiste em ficar esquecido no guarda-roupa. 
Chuck Taylor. Entre em qualquer site americano para tentar comprar um desses famosos tênis e você descobre na hora o segredo. Um Chuck Taylor é um Converse All Star
Mas afinal, quem é Chuck Taylor?
Não, ele não inventou os tênis talvez mais populares no mundo. O que ele fez então? 


Um dos primeiros Chucks


Chuck foi um importante jogador de basquete e um gênio de marketing (mas ele ainda não sabia). Começou assim. Chuck jogava basquete num time patrocinado por quem? Por uma empresa chamada Converse All -Stars. Então, os primeiros All Stars foram desenhados para jogar basquete? Sim. E Chuck incorporou a marca, viajan do os EUA , divulgando o esporte e , consequentemente, os All Stars. O negócio deu tão certo que em 1932 a empresa pôs o nome dele no All Star mais famoso de todos. 




O jornalista que escreveu uma biografia sobre Chuck Taylor, Abe Aamidor, faz a seguinte observação "ele deve ter sido o primeiro a compreender que uma pessoa pode ser uma marca".




Desde 1915 o All Star está no mercado. Cano longo, curto, vários modelos. Um ícone do American Style, como as calças Levi`s. Um sucesso graças ao Chuck.
No site da converse você pode personalizar o seu All Star. Mas não entrega no Brasil. Buá.






E se você quer ser diferente mesmo usando Chucks há edições limitadas feitas em parceria com marcas de luxo, como a italiana Missoni. Que tal um Chuck Taylor listrado?





Trench coat ainda não acabou

Tarde!
Ontem saí incompleta escrevendo sobre trench coat. Primeiro, porque a pesquisa é infinita e pra mim tudo é novidade em história da moda. Segundo, porque lembrei de fantasias envolvendo trench coat (só de lingerie por baixo, um clássico); detetives e trench coat;  personagens de filmes que, sem o trench coat, ficariam ensopados. Melhor dizer que, sem o trench coat a cena teria menos impacto na nossa memória visual. 

Você consegue imaginar Humphrey Bogart ,em Casablanca, sem um TC ?



E o inspetor Clouseau. Quem ele seria sem o TC? Seria apenas Peter Sellers.




O TC faz o personagem. 




Se em Breakfast at tiffany's o sempre lembrado é o preto clássico de Audrey Hepburn, você pode me dizer como ela saía pra passear em dia de chuva?


Ah, acertou!  

E, não sabia dessa, tem até filme em homenagem ao clássico Trench Coat. Mas não vi ainda não, descobri hoje. 


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mackintosh ou gabardine?

A chuva não para e não paro também de pensar em casacos à prova d'água. Que tal gabardine? Infelizmente, não tenho nenhuma peça desse ícone de luxo britânico. Um trench coat Burberry. Estou fora de moda desde 1901. 

Vamos ao Era uma Vez ...
... em 1856, Thomas Burberry um jovem visionário se preocupava tanto com o tempo quanto eu. Mas era por demais inteligente. E queria que os agricultores - o cuidado dele principal era com quem trabalhava no campo - bem, queria que os agricultores e fazendeiros tivessem roupas adequadas para trabalhar em dias de chuva. Mal sabia ele quão fashion estariam ao plantar e colher. 




Burberry fez experimentos com algodão, algodão egípcio, e, não sei explicar ao certo como, desenvolveu uma trama de tecidos capaz de impedir a chuva de penetrar na roupa. Eram costuras na diagonal, tão bem trançadas que tornam o tecido impermeável. Surge o gabardine em 1879.








A tradicional loja Burberry, em Londres, é de 1891. 


Mas não foi bem no campo que o gabardine ficou famoso. O tecido protegeu os primeiros exploradores. Usado também nas tendas das expedições no gelo. 



1910


1909 

Ernest Shackleton e três companheiros se embrenharam rumo ao Pólo Sul. Uma jornada heróica, de muitos imprevistos. Pelo menos Shackleton estava protegido com seu Burberry Gabardine


Mas e aí? Quando surgiram de fato os famosos trench coats? Eles surgiram como alternativa aos casacos pesados usados pelos soldados franceses e ingleses na primeira guerra mundial. E a invenção é compartilhada entre Burberry e Aquascutum (outro designer sobre quem falarei outro dia). A data exata da criação? Entre 1850 e 1901, depende de quem se diz o pai da ideia.


E a história é longa. Porque do primeiro trench coat até os que conhecemos hoje houve modificações. Rende mais um texto. O certo é que Burberry veste príncipes ...




Testemunhou o drama de Meryl Streep, em Kramer vs Kramer - 1979.




Um clássico, pra quem quer estar na moda mesmo quando o clima não está lá essas coisas. 


(ufa, mais um post. No próximo dia de chuva vou pesquisar sobre galochas e , claro, guarda-chuva ehehhehehe)




Mac também é casaco


O dia amanheceu chuvoso em São Paulo. Qual o companheiro ideal pra quem precisa trabalhar, como eu? Um casaco de chuva. Mas como surgiram os rain coats?


Nas pesquisas pela internet descubro Charles Macintosh. Este químico escocês , de longas e gordas costeletas. O que ele fez? Desenvolveu um tecido à prova d'água, desejo de muitos homens desde muitos séculos.

Uma das possibilidades é que os europeus ficaram encantados com o uso do látex pelos índios. Uma forma de impermeabilizar a pele. Desde então, tentaram reproduzir o mesmo efeito esfregando a substância em sapatos e capas. 

Somente no século dezenove, Macintosh inventa um tecido que realmente funciona. Mas não é aceito de início pelos alfaiates da época. Muitas faziam suas próprias versões de casaco e, de tanto costurar, abriam buracos no tecido e a chuva entrava. Outras vezes agulhas ficavam espetadas na roupa. Houve também quem ficasse com medo da novidade. Será que o tecido impermeável faria algum mal à saúde? Quem teria certeza em 1823? 

Aos poucos, os casacos ganharam confiança. Tanto que exército britânico adota os  Mackintosh como parte do uniforme. (Note que os casacos são Mackintosh com k e o criador é Macintosh sem k). Os Mac protegeram soldados nas duas guerras mundiais.


Um pouco dessa história você encontra no site Look and Learn.

Quer um Mackintosh original? É possível, viu. Até hoje esses rain coats são feitos a mão, seguindo as mesmas técnicas de 1823. Peças atemporais à venda em Londres.



E para entrar no clima desse dia chuvoso, quando um rain coat é indispensável, a dica é famous blue raincoat, de Leonard Cohen.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Claire McCardell's

Eu poderia começar com Chanel, Dior, Paul Poiret. Mas não. Quero apresentar Claire McCardell`s. Já ouviu falar? Não? Mas com certeza alguma vez você usou as ballets flats, nossas sapatilhas, baixinhas, com vestido ou saia. Graças a Claire elas estão na moda desde os anos 40 e nunca mais saíram de nossos pés. 

Em 1942, com o racionamento imposto na segunda guerra mundial não só de comida mas de roupa e acessórios também, Claire encontrou nas ballets flats uma alternativa para os sapatos de salto, em falta na época. Ao organizar um desfile, as modelos calçaram sapatilha.


É dela o desenho do fundo da tela. Uma jaqueta para o outono de 1957.



A americana revolucionou a moda feminina entre as décadas de 1930 e 1950, ao desenhar roupas simples, funcionais e com estilo. Ela popularizou o nylon , o denim e mostrou como é possível fazer peças sofisticadas com esses tecidos. Claire é a autora do popover dress, 1942. O que seria isso? Também aprendi hoje. Popover dress é um wrap dress, um vestido envelope. Li num artigo que é um modelo perfeito para qualquer tipo de corpo, porque alonga, ajusta e molda. Essa eu vou checar. Tenho um wrap dress.


E qual o tecido desse popover? Denim, claro.


In 1956, Claire was the third fashion designer ever to be featured on the cover of TIME Magazine and in 1990 they named her one of the 100 most important Americans of the 20th century.


Claire McCardell`s é o princípio do DNA da moda americana, da produção em massa.


Há tanto o que escrever sobre Claire McCardell. Mas é o suficiente para o meu começo. Ela morreu em 1958, jovem, aos 53 anos de câncer. 

Para inspiração, ficam suas criações.